15 NOVEMBRO 1927
Aqui vai um resumo da saga da Familia Darin, que abandonou fazenda de sua propriedade na região de São José do Rio Pardo-SP para se aventurar num lugar novo chamado 'Alto Cafezal', depois conhecido como Marilia.
João Baptista Darin, imigrado de Belluno, Italia em 1888, era dono de uma fazenda próspera, mas com 57 anos e já cansado da lavoura estava com vontade de mudar de ramo. Justamente
nesta época, circa 1926-1927 chegava-se notícias boas do oeste do estado de São
Paulo, região chamada Alta Paulista, que estava sendo desmatada para o plantio de mais cafezais e a construção da Cia.Paulista de Estrada de Ferro. Diziam que era um novo
Eldorado, onde as pessoas faziam fortuna rapidamente. O Velho Darin cometeu a loucura de abandonar o
certo pelo duvidoso. Abandonou a região de São José do Rio Pardo, bem desenvolvida e com bastante infra-estrutura, para se aventurar no ‘mato’,
sem nem mesmo ter visitado o lugar primeiro, para se certificar se era facto ou
lenda.
Em
São José as casas eram de tijolos, ao passo que no Alto Cafezal (Marília) as casas eram feitas de madeira recentemente retiradas dos desmatamentos frenéticos que aconteciam
a toque de caixa. Além do mais o solo de
Marília provou ser um ‘areião’, que se esgotou logo com a agricultura
intensiva, ao passo que a região da Mogiana era de solo fértil.
E
a familia Darin emigrou novamente, depois de exatos 39 anos que tinham chegado
da Europa. João Baptista & Erminia,
seu irmão Francesco, e mais uma penca de mais de 20 pessoas tomaram trens,
onibus, jardineiras, carroças e vai-lá-se-saber quais outros modos de
transportes, para chegarem no meio da selva, Marília, que não era nem município
ainda.
Vamos
à contagem das pessoas que abandonaram São José do Rio Pardo para fazerem a
viagem à Marília no dia 15 de
Novembro de 1927:
1.
João Baptista Darin (56); 2. Ermínia Billò (49); 3. Rissieri Darin (28); 4. Elisa Surian (34);
5. Ivo João (5 meses); 6. Jacomo (27);
7. Mariquinha Corsini (22); 8. Nilza
Darin (1 mês e 4 dias); 9. Maria Darin
Dutra (25); 10. Gumercindo Dutra
(33); 11. Moacyr Dutra (3 anos); 12. Gecely Dutra (1 ano); 13. Angela Darin (23); 14. Luiz Darin (22); 15. America Darin (20); 16. Octavio
(18); 17. João Baptista Filho (16); 18.
Nina (Olimpia) (14); 19. Rosa (12); 20.
Yolanda (8); 21. Valdemar (6); 22. Tio Chico - Francesco Darin (5)]; 23. Antonio-Tóni (23); 24. Trindade (22)
estava grávida de 6 meses; 25.
Luiza-Giggia (19); 26. Joanin (16).
Vinte
e seis pessoas em retirada para irem morar no ‘final da linha’. Aliás, a linha férrea da Cia.Paulista ainda não
tinha chegado em Marília. Alí era mato
puro, algumas ruas abertas no meio da mata.
E os Darin foram viver numa casa de táboas na esquina da Rua Minas
Geraes (futura rua 9 de Julho) e rua São Luiz. No mesmo local o Velho abriu uma
loja de secos & molhados.
Ermínia
Billò ficou totalmente isolada das irmãs Tonina e Maria, e da própria mãe
Angela Nani.
Da
antiga familia Darin que tinha vindo da Italia em 1888, só Marianna Darin ficou
na Mogiana e seus dois irmãos se aventuraram no sertão.
Logicamente
não se sabe como foram os primeiros dias dessa nova realidade, mas não devem
ter sido muito agradáveis. Havia muita
insalubridade nesses ambientes de ‘desmatamento’, e a primeira vítima não
custou tombar. Mas antes da primeira
morte, houve o primeiro nascimento em novas terras.
Nina (Olimpia Darina), Irina, Analia, Rosa Darin & Lila sentadas num tronco na Avenida Rio Branco - não há data, mas sabendo-se que Nina tinha 14 anos e Rosa Darin tinha 12 anos quando chegaram em Marília em Novembro de 1927, eu arriscaria que essa foto foi tirada circa 1929; Nina não teria mais que 16... aliás, nenhuma dessas meninas tem cara de ter mais que 16 anos.
Nina (Olimpia Darina), Irina, Analia, Rosa Darin & Lila sentadas num tronco na Avenida Rio Branco - não há data, mas sabendo-se que Nina tinha 14 anos e Rosa Darin tinha 12 anos quando chegaram em Marília em Novembro de 1927, eu arriscaria que essa foto foi tirada circa 1929; Nina não teria mais que 16... aliás, nenhuma dessas meninas tem cara de ter mais que 16 anos.
1928
No
início de 1928, os 26 membros da
familia se acomodavam na casa que o Nonno comprou na esquina das ruas São Luiz
e Minas Geraes (futura rua 9 de Julho), que era considerado o centro de
Marília-Alto Cafezal. Havia a grande
família do Nonno Darin (1), mais as pequenas familias do tio Chico (2), da Maria
& Gumercindo (3), Rissieri & Elisa (4), Jacó & Mariquinha (5) e
Tóni & Trindade (6). Seis sub-grupos
familiares vivendo sob um mesmo teto.
Logo,
o casal Gumercindo & Maria mudou-se, com seus filhos
Moacyr (3) e Gecely (1) para uma casa que ele próprio construiu lá distante,
dentro do mato, mas na própria rua São Luiz. Maria Dutra estava grávida pela 3ª vez. Zuleide conta que seu pai desmatou (na foice) uma data, num mato e construiu uma casa de pau-a-pique. Mais tarde, quando a prefeitura delineou a
rua São Luiz para aquele local, a casa ficou ‘fora-de-esquadro’, lá em cima, no morro, desnivelada com a rua,
e o povo achava graça dizendo que parecia uma ‘casa de pombos’. Só bem mais tarde é que Gumercindo construiu
aquele sobradinho na linha certa da rua São Luiz, onde morou até o final de sua
vida.
Gumercindo
trabalhou no comércio de couro, fazendo sapatões (?). Talvez venha daí o contacto com o húngaro
Francisco Vidrik, que tinha uma casa de couro na mesma rua São Luiz, onde o
Nonno Darin terminou seus dias trabalhando de guarda-livros.
Em
Março de 1928 nasce o primeiro filho
de Tóni e Trindade, também chamado Antonio
Darin.
15
de Setembro de 1928 casa-se Angela
Darin (24) com Jayme Scarpetti (20).
Não se sabe a razão de tanta pressa para esse casamento, já que os noivos se
conheciam há menos de um ano.
Jayme e seu pai Salvatore Scarpetti (50) eram pioneiros no lugar, tendo chegado no Alto Cafezal em 1925, quando só havia
algumas picadas por ali. Provenientes de
Limeira, trabalharam na derrubada da mata, construindo a primeira serraria do
Alto Cafezal, existindo foto dela nos livros sobre a história de Marília.
Julgando que taboas de madeira era a matéria-prima para fabricação de todas as
casas, inclusive edifícios públicos e hoteis, os Scarpetti deviam estar muito
bem monetariamente.
Alto
Cafezal-Marília era um lugar com maioria esmagadora de homens, pois eles se
aventuravam por lá sem suas esposas e filhos, para só depois de se assentarem,
mandarem vir as cônjuges e a prole.
Talvez, porisso Jayme tenha sido tão rápido em casar com uma das Darin,
já que mulher jovem era artigo raro por aquelas bandas. Jayme tirou a sorte grande quando casou-se
com Angela Darin.
20
Setembro 1928 morre Francesco
Darin, o querido ‘tio Chico’, as 6:00 horas, de colapso cardíaco, atestado pelo
Dr. José Perri, sendo declarante João Baptista Darin, segundo documento da
prefeitura de Marília. Cinco dias depois
do casamento de Angela Darin há o primeiro funeral na familia em terras
marilienses. Tio Chico é enterrado no
Cemitério da Saudade, uma das primeiras sepulturas, alí perto da entrada. Mais tarde, com a construção do muro e
alargamento, seu túmulo foi removido e os ossos lançados no ossário coletivo.
13
Novembro 1928 nasce Zuleide
Dutra, 3ª criança de Maria & Gumercindo Dutra.
Marilia
ainda não era comarca, e para registrar a menina, Gumercindo teria que ir a
Assis; então ele resolveu esperar um pouco mais e registrar Zuleide em São José
do Rio Pardo, pois ele teria que ir até a Mogiana para tratar da venda da
fazenda do Nonno. Eram negócios ainda
pendentes desde a retirada deles da região, em 15 de Novembro de 1927,
exatamente um ano antes.
Nota-se
que Gumercindo funcionava como
‘mão-direita’ (lugar-tenente) do Velho Darin, que preferia que o genro tratasse
de seus assuntos financeiros, invés dos próprios filhos. Parece que havia um bom entendimento entre
genro e sogro.
1929
Em
Janeiro de 1929 nasce a terceira criança de Rissieri & Elisa, a linda Lilia Therezinha, talvez homenagem à
Therezinha de Liseux, que tinha sido canonizada em Roma 4 anos anos (1925).
Fevereiro
de 1929 casa-se America (21) com Deoclydes
Carlos Nogueira (21).
Não
sabe-se muito sobre o casamento de America, apenas 5 meses depois de
Angela. Eu ouvi dizer que Erminia Billò
não queria que a filha se casasse com Deoclydes, pois ele ‘tinha amante’. Na verdade, America casou-se grávida, pois
Milton, seu primeiro filho, nasce no início de Novembro, 7 meses depois do
casamento. Não sei a profissão de
Deoclydes nesses tempos; mais tarde ele
se tornou motorista de caminhão. Não sei
a proveniencia de Deoclydes tampouco.
4
de Abril de 1929 – Marília se emancipa e torna-se município.
28
de Setembro de 1929 nasce Ecidyr Darin, que será mais conhecido
como Cidir; terceira criança de
Jacomo & Mariquinha. Ecidyr foi
registrado no dia 14 de Outubro de 1929.
29 Setembro 1929 morre Antonio Darin Filho, com 19 meses,
filhinho do Tóni. No atestado de óbito
diz: “morto às 3 horas de 29 Outubro
1929, filho de Antonio Darin, profissão: lavrador e Trindade Alcaide Darin,
prendas domésticas, tendo sido declarante Luiz Darin e o Atestado de óbito
firmado por Dr. Coriolano Carvalho, que deu como causa mortis Dispepsia
Crônica, sendo enterrado no Cemitério de Marilia, quadra 16, chapa 84.”
Assim
era Marília... no dia 28 de Setembro nasceu o Cydir e no dia seguinte morreu o
Toninho... um verdadeiro inferno tropical.
25 Outubro 1929 morre a menina Lilia Therezinha, com apenas 9 meses de
idade. No livro está: Lilia faleceu as
13 horas. Foi declarante João Baptista Darin, sendo o atestado de óbito firmado
pelo dr. José Sampaio, sendo enterrada no Cemitério de Marília, Quadra 16,
chapa 75.
5
de Novembro de 1929 nasce Milton Carlos Nogueira, 1º
filho de America Darin e Euclides Carlos Nogueira.
Cemitério da Saudade em foto dos anos 1930s, antes da construção do muro de tijolos. Ai foram enterrados os corpos do tio Francesco Darin (20 Setembro 1928), do filho do primo Toni Darin, Antonio Darin Filho (29 Setembro 1929) e da prima Lilia Therezinha (25 Outubro 1929). Depois de 3 mortes em apenas 2 anos, parte da familia Darin, apavorada, voltou para a região de São José do Rio Pardo. A sepultura dos Darin ficava perto do portão principal, que aparece prominente na foto. Nos anos 1940s a Prefeitura construiu um muro de tijolos e as sepulturas proximas da cerca e da entrada foram 'desapropriadas' e os restos mortais jogados em vala comum, que se denominou de 'cruzeiro'.
Cemitério da Saudade em foto dos anos 1930s, antes da construção do muro de tijolos. Ai foram enterrados os corpos do tio Francesco Darin (20 Setembro 1928), do filho do primo Toni Darin, Antonio Darin Filho (29 Setembro 1929) e da prima Lilia Therezinha (25 Outubro 1929). Depois de 3 mortes em apenas 2 anos, parte da familia Darin, apavorada, voltou para a região de São José do Rio Pardo. A sepultura dos Darin ficava perto do portão principal, que aparece prominente na foto. Nos anos 1940s a Prefeitura construiu um muro de tijolos e as sepulturas proximas da cerca e da entrada foram 'desapropriadas' e os restos mortais jogados em vala comum, que se denominou de 'cruzeiro'.
1930
Rissieri
& Elisa & Primos Darin retornam a São José do Rio Pardo em 1930
A
coisa estava ruim entre os Darin. Elisa, inconformada da perda de mais um filho, dessa vez sua Lilia Therezinha, temia pela segurança do pequeno Ivo João (3), já que em Marília se morria só
de tomar água não fervida. Elisa
arranjou uma maneira de ir embora daquele lugar insalubre e começou a preparar
a viagem, já que tinha cadeira como professora do Grupo Escolar de São José.
Os
primos Tóni, Giggia e Joanin muito tristes por terem perdido o pai logo depois
da chegada a esse lugar estranho, aproveitaram a ‘carona’ e voltaram à região
da Mogiana. Concluíram que a melhor saída era voltar para São José do Rio
Pardo, e lá se foram.
Não
se sabe a data exata de quando foram embora, mas foram. Rissieri nunca mais voltou ao seio da
família, e os primos Tóni, Giggia e Joanin também se desgarraram do resto dos
Darin. E aí os laços se perderam.
A
turma que voltou para São José do Rio Pardo nos primeiros dias de 1930
são: 1. Rissieri; 2. Elisa; 3. Ivo; 4.
Tóni; 5. Trindade; 6. Giggia; 7. Joanin.
Luiza (Giggia)
Darin
Nos
anos 1990 eu tentei achar esses primos, mas eles já deviam estar mortos. Angelina Corsini disse à Thereza Favero (neta
de Marianna Darin) que Luiza (Giggia) Darin tinha morrido nos anos 90, mas tinha ainda duas filhas, Nilza e Cleide
morando em Mocóca-SP e outra (Elza) em São José do Rio Pardo-SP.
Giggia teve um filho de nome Roque, que vivia em São Paulo. Giggia casou-se com Anselmo Ludovic; informação de
Angelina Corsini, irmã mais nova da tia Mariquinha Corsini, que eu visitei algumas vezes nos anos 1990. Angelina faleceu
em 1º Maio 1993.
Giggia
era muito querida entre as primas.
Yolanda diz que ela era bordadeira de ‘mão-cheia’.
Joanin Darin
Irmão
mais novo de Tóni & Giggia, tb. era muito querido entre os primos. Yolanda diz que Joanin era um ‘gozador’ e
gostava da pinga tb., embora essa ultima informação não pode ter sido dada por
Yolanda, pois Joanin tinha 18 anos (a idade do tio João Darin), quando voltaram
para São José. E pelo que se saiba, era
muito difícil esses dois grupos se visitarem devido aos troncos ferroviários de
então serem totalmente diferentes. Os
únicos tios que visitaram São José novamente foram o Jácomo, pois seu sogro
Dante ainda morava lá, e Valdemar, o caçula, que durante sua fase atlética de
corredor-amador visitou a região da Mogiana.
Joanin,
digo João Baptista Darin Sobrinho, nascido em 20 Outubro 1911, casou-se com
Gertrudes Lucas (não há mais informação que isso) e morreu em 5 Dezembro 1980, em Itobi, com 69 anos.
E
aqui ficam todas as informações que temos sobre esse ramo da familia Darin, que
voltou para as origens de São José, tendo tido os laços de amizade desfeitos.
Saint Anthony Chapel on top of the hill that would become Avenida Santo Antonio a few years later. It was 1928, the same year Cia Paulista de Estrada de Ferro arrived with its railways...